“Non serviam.” — Essa é, talvez, a frase mais antiga e atual do mundo.
Vivemos numa era em que o espírito de revolta se apresenta como virtude. Do discurso político à cultura pop, tudo gira em torno da exaltação do ego, da desconstrução da realidade e da negação do Criador. Mas essa tendência não é nova. É o eco distante da primeira revolta: a de Lúcifer.
O princípio da rebelião: Lúcifer e a origem do pecado
A tradição cristã, reafirmada pelo Catecismo da Igreja Católica (§391), nos ensina que Satanás foi criado bom — um anjo de luz. Mas, por orgulho, escolheu ser como Deus, contra Deus (cf. Gn 3,5). Proferiu o fatídico: “Non serviam” — “não servirei” (cf. Is 14,12-15; Lc 10,18).
Segundo Santo Tomás de Aquino (Suma Teológica, I, q.63, a.3), esse foi o "pecado do intelecto": quando a criatura racional nega seu fim último, que é Deus. O pecado não como um tropeço, mas como ato deliberado de negação da ordem.
Agostinho de Hipona reforça: o orgulho é o início de todo pecado (De civitate Dei, XIV, 13). Quando a criatura se coloca no centro do universo, o caos começa.
Pecado: uma rebelião contra a realidade
Deus é a Verdade (cf. Jo 14,6). Rejeitar essa verdade é viver em guerra com a realidade. Pecar, portanto, é adotar uma postura luciferiana.
Platão já dizia que o bem está na conformidade com a natureza racional do homem (A República, VI). E quando se nega essa natureza, não só se peca contra Deus — peca-se contra si mesmo.
Nietzsche, ao proclamar que “Deus está morto” (A Gaia Ciência, §125), não mata apenas o divino. Ele mata o sentido. É a institucionalização da revolta. O homem autolegitimado vira legislador do absurdo.
As ideologias modernas: máscaras da rebelião
O espírito de rebeldia não se manifesta apenas nos círculos ocultistas ou nas seitas explícitas. Ele veste terno, usa hashtags e vota.
O ateísmo, principalmente como desenvolvido por Faurbach, coloca o homem no centro da criação. Mas como advertia Pascal: “O homem ultrapassa infinitamente o homem” (Pensamentos, frag. 434). Sem Deus, tudo vira medida de si mesmo — e isso é o início da loucura. A porta de entrada para drogas mais fortes como:
O marxismo propõe uma salvação terrestre sem Redentor. Uma utopia que nega a ordem natural, substituindo a Cruz pela foice. Como alerta Pio XI, “o comunismo é, por sua natureza, antirreligioso” (Divini Redemptoris, 1937).
Não há marxismo sem ateísmo. Toda utopia socialista é fundada na negação do Deus que salva — porque precisa de um homem que redima por meio da luta de classes.
O feminismo, ao negar a complementaridade entre homem e mulher (cf. Gn 1,27), substitui a beleza da diferença pelo culto à androginia funcional. São João Paulo II já advertia: “a liberdade não é fazer tudo o que se quer, mas poder fazer o que se deve”. (Veritatis Splendor, 1993).
Não há feminismo sem aborto. O feminismo radical exige a aniquilação da maternidade como condição para a libertação feminina. A morte do filho se torna a liturgia do culto à autonomia absoluta. A vítima do feminismo não é o homem mas a família.
O movimento masculinista, embora reativo a excessos ideológicos, frequentemente cai no niilismo e na misoginia. Afasta-se do amor verdadeiro (cf. 1Cor 13,4-7). Como bem disse Viktor Frankl, “quanto mais o homem se esquece de si mesmo... mais humano ele se torna” (Em busca de sentido, 1946).
Tratei especificamente do movimento Masculinista em outro texto.
O movimento trans representa uma negação direta da identidade sexual dada por Deus no ato da criação. A Igreja ensina que “a diferença sexual é um dom de Deus” (cf. CIC §2333). Ao rejeitar essa realidade biológica e espiritual, o movimento propõe uma autodefinição absoluta, desvinculada da natureza e do Criador.
Além disso, o movimento trans não trata-se apenas sobre sexo ou gênero, mas também temos o “transumanismo”, que são formas de utilizar a tecnologia para prolongar o tempo de vida, reduzir o sofrimento, induzir aborto e até mesmo gerar bebês, de forma “além-humana”.
E qual o problema de tudo isso? Tudo isso é baseado na mentira. Ou melhor, na ilusão de que você consegue “moldar a realidade” como um alfaiate que quando o paletó não veste bem ao cliente, corta-lhe o braço. Um carpinteiro deturpado, invertido.
A cauda longa das ideias revolucionárias leva a Lúcifer
A rebelião moderna — disfarçada de progresso, desconstrução ou liberdade — tem um fim último: a recusa de servir. Toda ideologia que proclama a autonomia absoluta do homem, sem referência ao Sumo Bem, está na trilha do anjo caído.
Toda revolução começa no coração que diz “não servirei” — e termina ajoelhado diante do próprio ego ou do Estado. Em ambos os casos, já se está em aliança com o príncipe deste mundo (cf. Jo 12,31).
Esses movimentos não precisam necessariamente se identificar com o satanismo formal para participarem de sua lógica espiritual. Todo sistema que propõe uma autonomia absoluta do homem, à revelia de Deus, já caminha nas trilhas do príncipe das trevas. O satanismo não é apenas culto explícito ao demônio, mas toda escolha consciente de afastar-se de Deus, da Verdade, do Amor e da Vida — que é Cristo.
Como dizia São João Paulo II: “O homem não pode viver sem amor. Ele permanece para si mesmo um ser incompreensível, a sua vida é privada de sentido, se não lhe for revelado o amor” (Redemptor Hominis, 10). As ideologias da revolta, no fundo, propõem uma vida sem amor — porque rejeitam o Deus que é Amor (cf. 1Jo 4,8).
A única saída é DEUS
Contra tudo isso, o cristão é chamado à obediência amorosa. “A verdade vos libertará” (Jo 8,32). E essa verdade não é uma doutrina apenas: é uma Pessoa.
Jesus Cristo é a resposta à rebelião. Ele não propõe um sistema, mas uma Cruz. Não oferece autoafirmação, mas redenção. Como ensina São João Paulo II: “O homem não pode viver sem amor” (Redemptor Hominis, n.10).
As ideologias modernas são projetos de um mundo sem amor, pois rejeitam o Deus que é Amor (cf. 1Jo 4,8).
"A verdade é inegociável." – Papa Bento XVI
📚 Referências
BÍBLIA SAGRADA. Tradução CNBB. Paulus, 2008.
AGOSTINHO. A Cidade de Deus. Paulus, 1990.
TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Loyola, 2001.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Loyola, 2000.
FRANKL, V. Em Busca de Sentido. Vozes, 2005.
JOÃO PAULO II. Redemptor Hominis. Vaticano, 1979.
JOÃO PAULO II. Veritatis Splendor. Vaticano, 1993.
NIETZSCHE, F. A Gaia Ciência. Cia das Letras, 2001.
PASCAL, B. Pensamentos. Abril Cultural, 1979.
PLATÃO. A República. Martins Fontes, 2006.
PIO XI. Divini Redemptoris. Vaticano, 1937.
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Olha que eu estava justamente pensando nisso nesta semana, que no movimento libertário, bitcoiner, sinto falta de Deus! A descoberta desse texto foi um banho de inspiração e esperança, valeu,amigo!
Não tocou nos princípios da Revolução Protestante, mas tem a mesma alma mater: Marquinho Lutero e, sobretudo, João Calvinho, levaram esse "nom serviam" às últimas consequências. O próprio Calvino viria a reconhecer "há mais igrejas que cabeças", já que todo movimento revolucionário acaba em absoluto descontrole.
Teu texto é ótimo, um resumo perfeito de o porquê a situação do mundo está como está.