O Bitcoinheiro e a Caverna
Esse mito milenar ganha um novo significado no século XXI: o bitcoinheiro é o prisioneiro liberto.
A alegoria da caverna, proposta por Platão, descreve prisioneiros acorrentados desde o nascimento em uma caverna, forçados a observar sombras projetadas na parede por objetos que passam diante de uma fogueira. Aqueles prisioneiros, sem nunca terem visto a luz do sol, tomam essas sombras por toda a realidade. Quando um deles escapa e vê o mundo real, seu primeiro impulso é retornar e libertar os demais. Mas ao tentar fazê-lo, é recebido com escárnio, desprezo — e por vezes, com violência.
Ao compreender o funcionamento do sistema fiduciário — um sistema construído sobre dívida, inflação forçada e manipulação estatal da moeda — o bitcoinheiro rompe as correntes da ignorância econômica. Lê Rothbard, estuda Mises, devora Saifedean Ammous, entende a ética da produção monetária com Huerta de Soto, Hülsmann e tantos outros. Reconhece que o dinheiro estatal não é um bem neutro, mas um instrumento de expropriação silenciosa. Descobre que as "sombras" do sistema — salário mínimo, previdência pública, metas de inflação, bancos centrais — não passam de projeções de um teatro político destinado a manter a população cativa e dependente.
Ilumimado pelo Sol da razão e pela compreensão das características do Bitcoin — escasso, descentralizado, imune a censura — ele tenta voltar à caverna para resgatar seus amigos, familiares, colegas de trabalho. Mas eles não querem ser libertos. Chamam-no de fanático, de maluco, de “doomsday prepper”. Confiam nas sombras. Amam suas correntes.
A tragédia do bitcoinheiro é dupla: não apenas viu a verdade, mas ainda é forçado a conviver com aqueles que insistem em negá-la. Assiste à corrosão do poder de compra, aos ciclos de bolhas e crises causados por expansão artificial de crédito, à crescente vigilância financeira. Ele vê, mas não consegue fazer com que vejam.
Como na caverna, o conforto da ilusão é mais desejado que a angústia da verdade. A liberdade exige responsabilidade, exige autocustódia, exige estudo. Muitos preferem confiar no banco, no governo, no PIX. “Se fosse ruim, o governo já teria proibido”, dizem. E seguem, hipnotizados pelas sombras de um sistema que os empobrece.
Enquanto isso, o bitcoinheiro permanece — não como um messias monetário, mas como uma testemunha incômoda de um novo padrão ético. Fala, escreve, alerta, planta sementes. Algumas caem em solo fértil, outras entre pedras.
No fim, como nos diz o próprio Platão, “não é tarefa fácil abrir os olhos de quem não quer enxergar”. Mas o bitcoinheiro persiste. Pois, mesmo rejeitado, sabe que somente a verdade monetária liberta.
A missão do bitcoinheiro é ingrata, mas nobre. Ele é o homem que viu a luz e voltou para ajudar, mesmo que o preço disso seja o desprezo daqueles que ainda vivem entre sombras. Como diz o Evangelho, “ninguém é profeta em sua própria terra” — e isso vale ainda mais para quem prega a redenção monetária por meio do Bitcoin.
Seja você a exceção: não tema a luz. Saia da caverna.