Vivemos em uma época marcada por uma inversão profunda da ordem moral e espiritual. Em meu texto A Teologia da Revolta, mostrei como a essência da rebelião contemporânea não é apenas política ou cultural, mas teológica: o homem moderno não quer apenas viver sem Deus — ele quer ocupar o lugar de Deus.
O aborto é, talvez, a expressão mais trágica e emblemática dessa usurpação.
Na Sagrada Escritura, o sacrifício verdadeiro é sempre sinal de amor e obediência. Deus pede a Abraão que ofereça seu filho Isaac (Gn 22), não porque deseja a morte, mas porque quer a fé. E no momento decisivo, Ele intervém. O Pai detém o sacrifício. A mensagem é clara: Deus não quer a morte do inocente. O verdadeiro sacrifício é a entrega do coração, não do corpo do filho.
Mais tarde, no Calvário, vemos o único sacrifício aceitável: o de Cristo, que entrega voluntariamente sua vida pela salvação do mundo. Ali se revela o que é o amor em sua forma mais pura — dar a vida pelo outro, e não tomá-la (Jo 15,13). E o sofrimento feminino mais perene, a mãe que perde seu filho. A Matter Dolorosa.
O aborto, ao contrário, é a negação desse mistério. Ele transforma o ventre materno — lugar de vida — em túmulo. O filho é eliminado não por amor, mas por medo, desespero, conveniência ou ideologia. E o que há de mais perverso: esse ato é apresentado como libertação, como conquista de autonomia, como se a liberdade consistisse em matar o mais inocente. É a inversão da Matter Dolorosa em Mãe Devoradora, como bem traduz
em sua obra sobre a metafísica do feminismo.Nesta sinalização de virtude, o aborto passa a ser um rito de passagem, um símbolo, “vejam, mulheres, eu me livrei do peso do patriarcado eliminando o ser que me escravizaria durante todos os anos que ele dependesse de mim, EU SOU LIVRE!”.
Mas o que se esconde por trás dessa “liberdade” é um gesto de rebelião espiritual. A mulher, seduzida por doutrinas que negam a transcendência, se vê no direito de decidir sobre a vida do filho. Assume, ainda que inconscientemente, o papel de deusa, julgando quem deve viver e quem deve morrer. É uma paródia do poder divino — mas ao invés de ser criadora, torna-se juíza e executora.
Esse gesto é alimentado por uma cultura que rejeita a maternidade, ridiculariza o sacrifício, e glorifica o ego. Ao invés de se reconhecer criatura, a pessoa deseja ser criador. Ao invés de se entregar, se fecha. E ao invés de proteger o indefeso, o descarta.
São João Paulo II diagnosticou com precisão essa tragédia espiritual na Evangelium Vitae:
“A reivindicação do direito ao aborto, ao infanticídio e à eutanásia é sintoma de uma crise muito grave do sentido moral. [...] Quando se perde o sentido de Deus, também se tende a perder o sentido do homem” (EV, n. 21).
E ainda:
“Ao aceitar o aborto provocado, o homem assume o papel de Deus: decide arbitrariamente sobre quem deve viver e quem deve morrer” (EV, n. 66).
O altar moderno não é mais o do Templo — é a mesa fria de uma clínica. O sacrifício não é mais voluntário, mas imposto àquele que não pode se defender. É a perversão do sagrado. E o nome disso não é liberdade, é idolatria: a adoração ao próprio ego.
A Igreja, no entanto, jamais deixa de anunciar a verdade: toda vida humana é sagrada desde a concepção. Não há circunstância que torne moral a eliminação direta de um inocente (cf. CIC 2271). Mas ela também estende a mão às mulheres feridas pelo aborto. Com compaixão, convida à cura, à confissão, à reconciliação com Deus e com a maternidade perdida.
O aborto, portanto, não é apenas um pecado contra a vida. É uma afronta direta à ordem da criação. É o homem dizendo a Deus: “não quero o teu dom, quero decidir por mim mesmo”. É a repetição do drama do Éden, mas desta vez, com sangue inocente.
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Caro Ojeda...
Penso que essa "narrativa" desenfreada sobre o aborto é desproporcional...
Veja ao invés de se falar tanto em aborto que é uma atitude extrema, porque não se debate as formas de prevenção da gravidez, pois hoje e não é de hoje temos diversos meios de prevenção como (Camisinha, contraceptivos, Dio e etc). E até a esterelização de mulheres "vulneráveis" que são viciadas em diversas drogas. Colocar um ser no mundo vindo nessas condições acredito que seja muito mais crítica do que o próprio aborto enfim esse é só o meu ponto de vista.
Abraço....
Também escrevi sobre, não podemos deixar somente um lado ter voz!!! 🙏🏻