Bitcoin e o alto da montanha
Na tradição bíblica e também na história política, subir ao alto da montanha sempre representou mais do que uma escalada física. É um ato simbólico de busca pela verdade, pela visão clara do horizonte e pelo afastamento das distrações da planície. Moisés recebeu as Tábuas da Lei no Sinai, Cristo pregou o Sermão da Montanha, e até os tiranos, em sua sede de poder, sempre buscaram uma posição elevada para observar e dominar.
Hoje, quem sobe a montanha em busca de clareza sobre o dinheiro se depara com uma paisagem sombria: governos imprimindo moeda como quem imprime panfleto de campanha, bancos centrais brincando de demiurgos e um mundo inteiro refém da dívida infinita. Murray Rothbard já havia mostrado, em O que o Governo fez com o Nosso Dinheiro, que a moeda estatal é construída na fraude e mantida pela coerção. Saifedean Ammous descreve no Padrão Bitcoin como o fiat nos prendeu em ciclos de inflação e guerra perpétua.
No entanto, há uma trilha íngreme, difícil e libertadora que leva ao alto da montanha: o caminho do Bitcoin. Diferente da areia movediça do dinheiro fiduciário, ele é rocha firme, como na parábola citada em Thank God for Bitcoin. A casa construída sobre o fiat pode até brilhar por fora, mas cede ao primeiro vendaval de crises e hiperinflação. Já a casa sobre o Bitcoin resiste porque sua base é imutável, transparente e incorruptível.
Chegar ao topo não é para todos. Requer disciplina, autocustódia e rejeição ao conforto enganoso oferecido pelos bancos e pelos políticos. Os shitcoiners ficam pelo caminho, seduzidos por atalhos fáceis, promessas de rentabilidade mágica e tokens sem lastro na realidade. Os soças, por sua vez, nem tentam subir: preferem ficar na planície clamando por mais Estado, mais impostos e mais impressoras de dinheiro.
No alto da montanha, o que se vê é diferente. O horizonte revela uma economia baseada em escolhas livres, em poupança real e em cooperação voluntária. Como ensinou Mises em Ação Humana, a civilização é fruto da preferência temporal baixa e da acumulação de capital — exatamente o que o Bitcoin possibilita. E como lembrou Lowery em Softwar, o próprio mecanismo de prova de trabalho é uma forma de defesa pacífica, uma projeção de poder que protege não só o patrimônio, mas também a soberania individual.
Subir a montanha é duro, exige atravessar quedas de preço, suportar zombarias e resistir à tentação de vender convicção por moedas podres. Mas o topo está lá: é o padrão Bitcoin, uma civilização assentada em moeda forte, onde a liberdade não depende do humor de burocratas ou banqueiros centrais.
Bitcoin não é atalho, é a escalada. É a montanha que separa os livres dos servos. Quem chegar ao alto verá que não há retorno — e que o esforço valeu cada passo.