A moeda privada que está salvando o dólar
Como a Tether está cooptando o sistema que o Bitcoin nasceu para destruir
Em 2008, um documento de nove páginas surgia como uma arma de destruição em massa contra o cartel bancário mundial. O whitepaper do Bitcoin, assinado por Satoshi Nakamoto, não deixava margem para dúvidas: o sistema fiduciário, baseado em papel-moeda sem lastro e emitido coercitivamente por bancos centrais, precisava ser aposentado. Um dos alvos específicos dessa criação era o Federal Reserve, que, com suas rodadas de quantitative easing e resgates financeiros, institucionalizou a socialização das perdas e a privatização dos lucros.
Cerca de uma década após o surgimento do Bitcoin, desponta a Tether como a maior emissora privada de dinheiro do mundo. Lançando o USDT desde 2014 e sem jamais ter se submetido a uma auditoria completa, a empresa alcançou um feito inédito: tornou-se um dos maiores detentores privados de títulos da dívida pública dos EUA. Dados de 2025 apontam que a Tether detém mais de US$ 120 bilhões em Treasury bills, superando países como Alemanha e Canadá e figurando como o sétimo maior comprador líquido desses títulos em 2024.
— Isso mesmo: a stablecoin mais controversa do mercado está financiando o Estado mais endividado do planeta.
Um bailout silencioso ao Fed
A existência do USDT sempre foi motivo de controvérsia. A Tether nunca ofereceu uma auditoria independente completa de suas reservas, embora afirme estar parcialmente lastreada em ativos como metais, criptoativos e, majoritariamente, títulos da dívida norte-americana. O resultado prático dessa estratégia é uma espécie de "resgate privado do Estado":
"A Tether reduz os rendimentos de curto prazo em mais de 20 pontos-base, representando uma economia de cerca de US$ 15 bilhões ao ano para o Tesouro americano" — relatório citado por Bloomberg, maio de 2025.
Segundo estudo acadêmico publicado em 2025, a Tether detém 1,6% de todos os Treasury Bills em circulação — o que corresponde a cerca de US$ 98,5 bilhões.
Para aumentar a desconfiança sobre a Tether, John Reed Stark, ex-diretor do Escritório de Cumprimento da SEC (U.S. Securities and Exchange Commission), declarou recentemente:
"Tether é um castelo de cartas marcadas."
Stark questiona a confiabilidade do lastro do USDT, destacando a ausência de uma auditoria independente por uma Big Four e classificando a empresa como "um grande mistério financeiro". Para ele, é assustador que tamanha quantidade de dinheiro circule no mundo digital sem as mínimas garantias.
Ou seja, o que deveria ser um instrumento de resistência, tornou-se um bastião da continuidade do parasitismo estatal. A liquidez gerada pelos USDTs é, ironicamente, a e salvação de um sistema que deveria estar afundando sob seu próprio peso inflacionário.
Tether: melhor que o dólar?
Do ponto de vista funcional, é possível argumentar que o Tether é mais estável, mais rápido e mais acessível que o próprio dólar.
Mas não se enganem: ele é apenas uma cópia privada da moeda estatal, e sua existência depende justamente da confiança na capacidade dos EUA pagarem seus débitos. Em termos ontológicos, o USDT é dólar — com código de API, escritório e CEO.
Pior: ao reforçar a demanda por títulos do Tesouro, a Tether está ajudando o sistema fiduciário a ganhar tempo, protelando o colapso que a hiperinflação monetária fatalmente trará.
Mesmo assim, a Tether não é a maior entre os detentores privados de Treasury Bills. Os principais detentores destes títulos são governos estrangeiros: o Japão, por exemplo, detém mais de US$ 1,13 trilhão em títulos. Enquanto a maior companhia privada é a Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, que possui cerca de US$ 158 bilhões em T-Bills, ou 3% do total emitido — mais do que o dobro da Tether, que cresce seu stack de dívida pública de forma acelerada.
Não se pode ignorar que o Bitcoin foi criado para ser a resposta moral e técnica aos desmandos da impressão monetária. A Tether, ao se tornar uma das maiores compradora de dívida do Estado mais agressor do mundo, dá um tapa na cara de todos os que defendem a separação entre dinheiro e Estado.
Conclusão: por que só o Bitcoin é dinheiro honesto
No fim das contas, o Tether é apenas mais uma engrenagem da grande maquina de papel pintado. Ele não é alternativa, não é resistência, não é soberania. É um tapa-buraco para um sistema moribundo.
Aos bitcoinheiros de verdade, fica o alerta: stablecoin é ilusionismo financeiro.
Se você quer ser livre, não ancore sua vida no navio que está afundando.
Bitcoin ou escravidão. Não existe meio termo.
Referências:
Bloomberg. "Tether agora detém 1,6% do mercado de Treasury Bills". Maio/2025.
Estudo acadêmico: "The Stablecoin Discount: Evidence of Tether's U.S. Treasury Bill Market Share", 2025.
Relatório trimestral da Tether. Q1/2025.
Portal do Bitcoin. "Tether é um castelo de cartas", diz ex-diretor da SEC. Junho/2024.
Saifedean Ammous, "O Padrão Bitcoin".
Murray Rothbard, "O que o Governo fez com o nosso dinheiro?"
Jörg Guido Hülsman, "The Ethics of Money Production".
Andreas Antonopoulos, "The Internet of Money".
Máquina de moer a alma e tempo de vida de cidadãos.