A Lei de Thiers, Bitcoin e o fim do dinheiro podre
Por que guardamos o bom dinheiro e gastamos o ruim — a lógica que coloca o Bitcoin no topo
A sabedoria popular diz que “a moeda ruim expulsa a boa” — e, como toda frase de efeito que sobrevive séculos, ela tem um fundo de verdade. A chamada Lei de Gresham descreve o fenômeno observado quando o Estado impõe um câmbio fixo ou curso forçado entre duas moedas: a pior, que perde valor mais rápido, é usada no dia a dia; a melhor, mais estável, desaparece da circulação formal e vai para o colchão, para o cofre ou para o estrangeiro.
Só que esse é um retrato de um mercado distorcido. Quando as pessoas têm liberdade para escolher, sem curso forçado, o que ocorre é exatamente o oposto. É a Lei de Thiers em ação: o bom dinheiro expulsa o ruim. Dado tempo e opção, os agentes substituem ativos fracos por sólidos, abandonando a sucata monetária inflacionária e migrando para reservas de valor robustas.
No arranjo monetário atual, onde Bitcoin e moedas fiduciárias coexistem sem paridade obrigatória, a lógica de Thiers é cristalina. É racional gastar a moeda podre — o real, o dólar, o euro — e guardar Bitcoin. Não porque o BTC “falhe” como meio de troca, mas justamente porque cumpre tão bem o papel de reserva de valor que ninguém com dois neurônios funcionais o queima em despesas banais.
E aqui entra a ironia libertária: os críticos dizem que “ninguém usa Bitcoin para pagar o café”. Ora, gastar Bitcoin hoje para comprar um café é como pagar um pão em Roma com uma moeda de ouro — só um soça faria isso. No livre mercado, as pessoas naturalmente preservam o ativo que mantém e aumenta seu poder de compra, e liquidam o lixo inflacionário o mais rápido possível.
O que estamos vendo — milhões de indivíduos acumulando sats, mesmo sem usá-los no comércio local — é prova econômica de que o Bitcoin já é reserva de valor. O processo de Gresham ao contrário está em curso, e não precisa de decreto, ONG ou regulador para acontecer. Basta que a confiança nas moedas fiduciárias continue caindo, e o bom dinheiro, como sempre, fará seu trabalho: enterrar o ruim.
E quando esse enterro se completar, não será um funeral triste. Será a celebração do fim de um regime monetário baseado na fraude, na diluição e na escravatura da dívida — e o início de uma era em que o Estado não terá mais a impressora como arma.